Aqueles
que optam por cuidar de um cachorro e, concomitantemente, serem cuidados por ele, sem perceber,
apropriam-se do verdadeiro significado de suas próprias vidas. O
dono acompanha todas as etapas da vida daquele que depende
inteiramente dele. Quando pequeno, tem suas noites mal dormidas, já
que o filhote sente muita falta de sua mãe. Há o período de
aclimatação e apresentação, quando ambos começam a se entender e
perceber que a troca pode favorecer a ambos. Logo em seguida, mais à
vontade, o novo peludo e rechonchudo habitante da casa começa a roer
chinelos, fazer xixi fora do local estipulado, é a vida que se
principia.
Depois
vem a adolescência, o cachorro quer brincar, passear, rolar na
grama, esquentar o pelo no calor do sol e fugir do refresco do banho
depois. Nesse período, tudo é novidade e descoberta. Começa a
atração pelo sexo oposto. E o dono tem que tomar uma decisão dura:
castrar ou não. Disso vai depender a qualidade de vida futura do
cão. Para aqueles que optarem pela segunda opção, receberão mais
uma marca indelével da vida: a cria da sua cria.
Posteriormente
acontece um fenômeno que não temos a possibilidade de acompanhar
como seres humanos. Nem mesmo os pais - com a revelação da
concepção, criação e tutoria educacional - podem passar por esse
processo. Já que eles criam os filhos para o mundo e depois ficam à
sombra daqueles, com a sensação de missão cumprida. Nesse caso da
relação homem-cão, o “pai” se torna “filho”. As relações
se invertem. Agora o cãozinho inspira cuidados e preocupações.
Começam a aparecer bicos de papagaio, notam-se agora as dificuldades
para superar os degraus das escadas, o sono aumentado, os pelos
brancos que aparecem principalmente na face, o tempo que vai polindo
o animalzinho conforme o seu desejo
A
caminhada final são as preocupações naturais do gostar. Algumas
doenças senis caninas dão um susto nos donos, mas os cães não
desistem. O melhor exemplo é o do Acidente Vascular Encefálico
(AVE), quando o cachorro é acometido por essa doença tende a se
recuperar melhor que o ser humano. Neste ponto, o dono começa a
pensar na possibilidade do fim da parceria. Aqui o homem se apropria
da brevidade da vida, da do animal e da sua própria. Aquele ser
querido é um reflexo do que vai se dar na sua vida e na de tantos
outros queridos familiares e amigos. A vida é uma sucessão de bons
e maus momentos, até que se encontra o que os jogadores procuram
tanto nos games, o final.
Mas
depois fica a presença eterna do animal. Sua vida se modificou
tanto. Aprendeu tanto com ele e vice-versa, que é impossível
excluí-lo para sempre da memória. A morte nos rouba a companheira,
todavia não faz o mesmo com as lembranças. Objetos, momentos,
situações, tudo faz pensar que valeu a pena. E que alma gigante que
ela tinha, o próprio Pessoa iria se impressionar. Descanse em paz,
querida Maggie, pois seus últimos momentos foram duríssimos.
Maggie
“De
vira-lata a senhora de si que ensinou como a vida é bonita a toda
uma família”
01/09/1997
– 27/05/2013