terça-feira, setembro 23, 2008

Voto Certo: Cacareco - 59.900

Em 4 de outubro de 1.959, os paulistanos, já desanimados em meio a candidaturas para lá de caricatas, elegeram o rinoceronte Cacareco, com margem folgada de cerca de 90 mil votos. Esse número expressivo demonstrava que a população já estava farta de políticos sem propostas e que se apresentavam de forma cômica, como o obeso de 230 kg que ostentava o slogan político "O candidato que vale o quanto pesa" ou aquele outro que andava acompanhado de uma onça, brandindo aos quatro ventos que "Eleitor inteligente vota no amigo da onça".
Esse cenário "nonsense" foi desencadeado por uma brincadeira de uma das mentes inquietas do final da década de 50, o jornalista Itaboraí Martins, na época jornalista de "O Estado de S. Paulo" e da rádio "Eldorado". Ele, arrefecido em seu direito maior de exercer a sua cidadania, comentou jocosamente com os amigos que votaria no paquiderme. Aquela declaração tocou fundo nos demais companheiros que começaram a cogitar a idéia. Diante da adesão gigantesca, ele e os compadres saíram pichando pela cidade os dizeres "Cacareco para Vereador", o que logo ganhou a atenção da mídia e da população local.
As autoridades tentaram, três dias antes das eleições, frustar a intenção dos fiéis apoiadores do quadrúpede de chifres, afastando-o da cidade e embarcando-o em um caminhão de volta ao Rio. Tal estratagema só confirmou a força política do animal que, segundo testemunhos de quem acompanhou as eleições e estimativas feitas por jornalistas, uma vez que aqueles votos nulos de protesto ficavam de fora das estatísticas oficiais, recebeu exagerados 90 mil "x" dos eleitores. O episódio ganhou destaque na revista "Times", que destacou a justificativa de um dos votantes: "É melhor eleger um rinoceronte do que um asno".
O mais engraçado é que Cacareco, que ostentava sua corpulenta massa de 900 kg, filho de Britador e Teresinha, cujo nome advinha do fato de ser feio e desengonçado quando filhote, era despido de pretensões políticas. Caiu de pára-quedas em São Paulo, por meio de um empréstimo do Zoológico do Rio de Janeiro para participar da inauguração do Zoológio de São Paulo, em março de 1.958.